
O escritor Guibson Medeiros escreveu: “As mulheres nordestinas são fortes e destemidas, são Marias… são Marinas, são Rosas e Margaridas, são Anas… são Angelinas, são Mães… são Heroínas”. Mas, são também Joanas e Joaninhas.
Em 23 de junho de 1925, lá num grotão desses fincados no sertão nordestino, Prensa, nascia Joana Dantas de Oliveira. Aliás, a filha do casal José Antônio da Silva e Luíza de Sousa Dantas, que ainda teve 11 filhos, vem ao mundo em meio a proteção de três santos: João, Pedro e Antônio. Para quem chega a desafiar o tempo, viver cem anos, quiçá esteja ai uma bendita explicação.
Sim. Porque se nascer nos dias atuais chega a ser desafiador, muitas vezes sobre à sombra de uma perspectiva negativa regada pelo estresse do dia-a-dia, imagine-se nascendo numa comunidade fincada no semiárido nordestino no início do século passado.

Eram tempos em que o básico faltava, a seca era implacável, as distâncias eram infinitas e a educação era à luz de lamparina, quando se deparava com uma professora, um raro tesouro para a época. Mas, é bem verdade, não faltava fé. Para Dona Joaninha, já bastava.
“Esse orgulho que carrego eu jamais vou dividir. A seca me deixou cego na maior dor que senti e é duro, mas não me entrego e uma coisa que não nego é a terra onde eu nasci”. (Guibson Medeiros)
Apesar das dificuldades. Do mais precisar do que ter. Do viver quase sem expectativas, Dona Joaninha herda dos pais a religiosidade. O apego à resiliência e a convicção que Deus sabe mais, pode tudo e sempre destina aos bons o futuro que merecem. Se sobrava as agruras ora por conta da seca, ora por conta da enchente. A família se agarra com unhas e dentes na convicção que a cada dia nasce uma esperança. E quem diria que durasse cem anos.

“A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado.” (Raquel de Queiroz)
Joaninha se torna mulher. Forjada pelas dificuldades, com princípios éticos estabelecidos na herança moral dos pais, com fé em Deus e com o compromisso de viver a posterioridade como se um livro fosse com as páginas escancaradas a quem desejasse beber da receita certa da longevidade. Ela se casa com Antônio Cassimiro de Oliveira no dia 24 de fevereiro de 1951 com quem teve 11 filhos. A família hoje se completa com 16 netos e 8 bisnetos.

“Se tuas experiências de vida servir para ajudar outras pessoas, compartilhas. Caso contrário, cala-te e passe por elas em silêncio”. (Damião Maximino)
Joaninha optou por uma da mais sublimes condições humanas. Compartilhar. Experiência de vida não dever ser um livro fechado, empoeirado e esquecido numa prateleira de uma estante. Preferiu aos mais jovens as narrativas de sua vida sem meio termos, sem arrodeio, porém, precisa, direta e honesta, mas, sem perder a ternura. Certo dia lhe descreveu um neto:
“Joaninha faz da palavra uma ponte: mesmo quando fala sem filtro, arrancando boas risadas de todos, revela o jeito de quem se expressa com o coração — aberto, escancarado e acolhedor para quem nele quiser se abrigar. Em cada conselho, comentário ou palavra, há sempre a intenção de proteger”.

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. (Maria Júlia Paes)
Joaninha é um desses seres humanos que parece ter sido escolhido por Deus para viver um século. E um por uma razão peculiar. Um ser do bem, retilíneo, de bons exemplos e de uma capacidade extraordinária de saber viver a vida não apenas para si, mas, acima de tudo, para os outros.
“Hoje, ao celebrarmos seus cem anos, reconhecemos que a senhora é a raiz que nos mantém firmes, a luz que nos guia, a prova viva de que a força, a fé e a generosidade são capazes de transformar o lar. Muito nos honra poder dizer que somos filhos, netos, bisnetos, genros, sobrinhos, primos, frutos da união de Joaninha e Antônio. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo que ainda nos ensina a cada dia”. Escreveu seu neto José Neto de Andrade.

Uma homenagem pelo centésimo ano de vida de Dona Joaninha. À quem o tempo parou para contemplar.
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